Tuesday 9 September 2008

RESULTADOS DAS LEGISLATIVAS: VOTO DE CONFIANCA NA SITUACAO, OU DE DESCONFIANCA NA OPOSICAO?

1. Antes de mais, tenho que registar aqui o meu profundo suspiro de alivio por estas eleicoes nao terem descambado em violencia descontrolada, nem em interminaveis disputas quanto a sua credibilidade, apesar das admitidas insuficiencias e irregularidades pontuais que se verificaram e a que varios observadores internacionais aludiram (lamentando apenas que tais contratempos, nao tendo posto em causa a validade do processo eleitoral no seu todo, puseram de certo modo em causa a afirmacao do Presidente no discurso de abertura da campanha eleitoral, segundo a qual “Angola pode dar um exemplo ao nosso continente e ao mundo em geral, sobre a forma de realizar eleições democráticas, livres e transparentes”): UUUFFFFFFFFFFFF!!!!!!!!!!

2. Tendo suspirado a contento, deixem-me agora falar do meu descontentamento perante os resultados que se teem vindo a desfraldar nas ultimas horas. Descontentamento porque? Porque, nao sendo militante nem simpatizante de nenhum partido, esperava, e desejava, um maior equilibrio dos resultados, senao exclusivamente entre o MPLA e a UNITA, pelo menos entre o partido da situacao e o total da oposicao. Ora, pelos resultados provisorios, que nada deixa prever se venham a alterar significativamente ate’ que a contagem final seja divulgada e homologada, estes revelam uma esmagadora victoria do partido da situacao e um virtual eclipse da oposicao – um resultado muito pior para esta do que o que tera’ obtido em 1992, particularmente no que a UNITA diz respeito.

3. Varios terao sido os factores determinantes de tais resultados, dos quais alguns se apresentam de imediata identificacao: i) a vantagem comparativa do MPLA em termos de meios materiais e financeiros, controlo da imprensa estatal e dos circulos de influencia a varios niveis do poder e a manipulacao do processo eleitoral que tal vantagem lhe tera’ possibilitado; ii) a falta de coerencia do(s) discurso(s) da oposicao, nao so’ devido a multiplicidade de partidos – a qual apenas foi mitigada a poucas semanas do acto eleitoral, quando o recem-constituido Tribunal Constitucional os passou a pente fino e aprovou apenas 14 dos potenciais concorrentes –, mas tambem, e sobretudo, devido a falta de coerencia interna desses partidos: praticamente todos registaram nos ultimos anos episodios de dissencao e cisao, com especial relevo para os dezasseis “deputados renegados” da UNITA e as fissuras nela criadas pelo (des)posicionamento partidario de lideres como Chivukuvuku ou Valentim; iii) o factor ‘experiencia’ (indisputavel?) por parte dos detentores do poder ha’ mais de 30 anos, aliado ao factor ‘habituacao’ de um eleitorado que tera’ decidido preferir “o diabo que ja’ conhece”.

4. Entre a oposicao, pelo menos um partido tera’ escapado a imagem geral de falta de coesao interna, disputas pela lideranca e (quase?) exclusiva preocupacao com as benesses materiais e financeiras do poder, que caracterizou nao poucos dos seus companheiros da oposicao durante a longa travessia no deserto desde as legislativas de 1992: a Frente para a Democracia (FpD). Mas se essa tera’ sido a sua bendicao, tambem tera’ sido a sua maldicao. Porque? Porque, dadas as expectativas que gerou, em particular entre a elite urbana de Luanda, e a forma como ela propria se projectou nos ultimos tempos como “terceira forca” ou “partido charneira”, a FpD surge como a grande derrotada destas eleicoes, pelo menos a julgar pelos resultados ate’ agora divulgados (em decimo lugar no momento em que escrevo). Ora, esta particular “derrota” da FpD leva-me a tecer algumas consideracoes sobre o que realmente esteve em causa nestas eleicoes.

5. Antes de entrar propriamente em tais consideracoes (que, por imposicoes do timing e da distancia em que as teco, serao necessariamente tao provisorias quanto os resultados das eleicoes divulgados ate’ agora)* importa olhar um pouco mais atentamente para quem votou nestas legislativas. Foram os Angolanos (ou parte deles residentes no pais). E quem sao os Angolanos? Em tracos gerais, nunca e’ demais nota-lo, sao um povo que foi colonizado pelo pais menos desenvolvido da Europa Ocidental durante boa parte dos ultimos 5 seculos, que lutou (ou pelo menos parte dele) pela obtencao da sua independencia politica durante boa parte dos ultimos 50 anos, que se viu envolvido numa guerra fratricida, alimentada parcialmente por potencias estrangeiras, e em particular pelos protagonistas da Guerra Fria, durante boa parte dos ultimos 30 anos e que foi agora pela primeira vez as urnas 16 anos depois de umas eleicoes inconclusivas e com resultados desastrosos. Em suma, para la’ da exuberancia e do ‘bravado’ que os nossos brilharetes evidenciam – nos campos de futebol e de basquetebol, nas pistas de danca e, mais recentemente, nas exibicoes novo-riquistas dos novos edificios e aquisicoes materiais e nas estatisticas resultantes do output dos nossos pocos de petroleo –, um povo brutalizado e traumatizado por toda a sorte de violencias e adversidades, as quais tiveram profundos impactos materiais, psicologicos e espirituais nas suas vidas quotidianas e na forma como tendem a perspectivar o seu futuro. Impactos esses que, embora se pretendam disfarcar por tras do tal ‘bravado’ e exuberancia, se revelam amiude na inseguranca, frequentemente mascarada de arrogancia (que, a par de uma doentia subserviencia a tudo quanto seja estrangeiro, particularmente se europeu ou brasileiro, quantas vezes se traduz na mais flagrante falta de solidariedade, cortesia e respeito mutuo entre compatriotas e em varios graus de complexos de inferioridade e/ou de superioridade que invariavelmente conduzem a accoes destrutivas ‘do outro’, particularmente se tal 'outro' nao detem uma posicao qualquer de poder na sociedade local ou, seja por que razao for, seja parte da Diaspora, espelhando ainda uma certa psicose de guerra fratricida permanente…), com que os Angolanos em geral, desde as chamadas “massas populares” as chamadas "elites", de esquerda ou de direita, se comportam na sua vida social aos mais diversos niveis e exercem as suas escolhas, desde as mais triviais, as mais importantes e decisivas como, neste caso, as eleicoes.

6. Foi, pois, esse povo que produziu os resultados eleitorais que temos observado nas ultimas horas. Foi um povo, qual “Teresa Baptista” de Jorge Amado, cansado de guerra; um povo em busca de seguranca e da concretizacao, de forma observavel, de aspiracoes e necessidades materiais, psicologicas e espirituais imediatas e nao de promessas longinquas e impalpaveis; um povo que, como notei acima, parece ter preferido escolher, entre varios possiveis, “o diabo que ja’ conhece”. Poe-se, entao, uma dupla questao incontornavel: onde e’ que o MPLA foi buscar tanta credibilidade para ser julgado capaz de conceder seguranca, mitigar carencias, concretizar aspiracoes e satisfazer necessidades que, quanto muito, apenas tera’ contribuido para agravar durante a maior parte dos ultimos 30 anos e porque que a oposicao, em face de tais carencias, necessidades e aspiracoes nao foi capaz de as capitalizar em seu favor?

7. Responder cabalmente a tal questao e’ um desafio de alta ordem que, contudo, creio poder ser simplificado ao essencial e reduzido a algumas constatacoes basicas: i) mais do que tudo, a maioria do eleitorado tera’ priorizado, entre as suas expectativas e aspiracoes, a necessidade de estabilidade politica e normalizacao institucional no pais, antes de apostar decididamente na mudanca do status-quo; ii) o partido da situacao tera’ sabido capitalizar a sua experiencia de decadas no poder, reforcando-a em vesperas de eleicoes com uma profusao de inauguracoes de novos empreendimentos imobiliarios e infrastruturais e promessas (crediveis?) de os multiplicar nos proximos anos; iii) a oposicao nao esteve a altura nem das expectativas e aspiracoes da grande maioria do eleitorado, nem do challenge do partido da situacao (e aqui ha’ que notar que, se JES se afirmou e se comportou como um “decimo segundo jogador em campo marcando golos fora de jogo” ou como “um treinador ou arbitro que entra em campo para marcar o penalty decisivo a favor de uma das equipas”, nada faria supor de antemao que a sua entrada em campo viria a revelar-se necessariamente uma vantagem para a sua equipa e… tudo parece indicar que ainda nao apareceu entre os lideres da oposicao um challenger capaz de o por definitivamente fora de campo – mas isso e’ uma conversa mais la’ para o proximo ano).

8. Em particular, a FpD parece nao ter conseguido destrincar, aos olhos de grande parte do eleitorado, aquela fine line que separa um “partido com um numero significativo de intelectuais” de um “partido elitista”. Isto e’, embora se tenha multiplicado em discursos mobilizadores da sociedade civil e em accoes de solidariedade para com alguns dos segmentos populacionais mais vitimizados pelo poder (desde os contestatarios de Cabinda, aos desalojados da Boavista, passando pela Diaspora impedida de votar), tera’ desconseguido engajar completa e decisivamente quer a sociedade civil (muito provavelmente por significativos sectores desta ainda se considerarem membros da “grande familia”), quer “as massas populares” de que tantas vezes se tem manifestado como porta-voz (as quais, muito provavelmente lhes terao agradecido a simpatia e o apoio, mas nao passaram por isso a identificar-se com eles ao ponto de votar neles), quer a generalidade dos "diasporenses" (no caso destes, fundamentalmente, por, para la' de ter tentado obter dividendos politicos dos seus varios descontentamentos, pouco ou nada ter avancado no sentido de propor solucoes viaveis para um dos seus maiores anseios: o regresso a patria, com dignidade). Tera’ tambem, apesar de nao se ter rogado, durante a campanha, a fazer amplo alarde do peso dos seus intelectuais, falhado em desbancar, com argumentos suficientemente crediveis, inteligiveis e incontestaveis, o grande trunfo do partido no poder: o real crescimento do PIB e a alegada “estabilidade macro-economica” observados nos ultimos anos e que “apenas a sua equipa economica supostamente sera’ capaz de continuar a proporcionar ao pais”. Tendo sido tal falha tambem devida, em grande medida, a gritante falta de cultura do debate que caracteriza a sociedade angolana em geral, a qual, por sua vez, tem muito a ver com a inseguranca de que falo acima.

9. Nao menos importante, pelo que pude observar, nao so’ do acompanhamento que tenho feito ao longo dos anos, como dos ecos que me foram chegando do terreno ao longo desta campanha e de alguns dos seus posicionamentos registados na blogosfera, a FpD, tal como alguns dos varios grupos de elite que ao longo da historia do MPLA dele se desafectaram por uma razao ou por outra, evidenciou uma caracteristica que tem marcado geralmente alguns desses grupos: um radicalismo (embora raramente assumido abertamente) dito “de esquerda” em termos politico-ideologicos e de ideais economicos, associado a um conservadorismo marcadamente “de direita” e, no limite, de matizes a rocar o puro reaccionarismo (quando nao o mais despudorado neocolonialismo e racismo - em exacta equivalencia ao dito "endocolonialismo" de que alguns acusam o partido no poder), em termos socio-culturais. So’ para dar um exemplo, um dos claims que fez a saciedade durante a campanha foi a sua “preocupacao com as questoes do genero”. No entanto, nao me dei conta, quer em termos de propostas concretas de politica, quer em termos de demonstracoes praticas, de uma particular sensibilidade desse partido em relacao a tais questoes. Em suma, a FpD, salvaguardados todos os seus indiscutiveis meritos relativos, parece ser um partido ainda em busca de um equilibrio satisfatorio entre o populismo e o programatismo, o dogmatismo e o pragmatismo, a retorica politica e a formulacao de politicas, a teoria e a pratica, enfim, entre o ideal e o real. E essa, quanto a mim, a razao fundamental para a sua “derrota” relativa, enquanto partido oposicionista mais promissor ate’ as vesperas destas eleicoes.

10. Do que vai dito resta-me uma consolacao: se a real expressao politica actual dos varios partidos da oposicao e’ a que os resultados destas legislativas revelam (e nunca e’ demais repeti-lo: apesar de todas as “trafulhas” que o partido da situacao possa ter feito para garantir a sua victoria, nada garantiria ou deixaria prever uma victoria tao retumbante como a que se vem desenhando desde o inicio da contagem dos votos), entao e’ bom que eles se mantenham na oposicao por pelo menos os proximos quatro anos, assumindo que terao a necessaria maturidade como partidos e responsabilidade como Angolanos para desses resultados retirarem as devidas licoes e ilacoes e nao cometerem os mesmos erros na caminhada para as proximas legislativas. Porque restam-me poucas duvidas de que estes resultados, mais do que um voto de confianca na situacao, revelam um voto de desconfianca na oposicao!

*As consideracoes aqui feitas deixaram de ser 'provisorias' quando, no dia 17/09/08, a CNE publicou os resultados definitivos das eleicoes que, como previa, nao revelaram alteracoes significativas relativamente aos conhecidos no momento em que as teci.
1. Antes de mais, tenho que registar aqui o meu profundo suspiro de alivio por estas eleicoes nao terem descambado em violencia descontrolada, nem em interminaveis disputas quanto a sua credibilidade, apesar das admitidas insuficiencias e irregularidades pontuais que se verificaram e a que varios observadores internacionais aludiram (lamentando apenas que tais contratempos, nao tendo posto em causa a validade do processo eleitoral no seu todo, puseram de certo modo em causa a afirmacao do Presidente no discurso de abertura da campanha eleitoral, segundo a qual “Angola pode dar um exemplo ao nosso continente e ao mundo em geral, sobre a forma de realizar eleições democráticas, livres e transparentes”): UUUFFFFFFFFFFFF!!!!!!!!!!

2. Tendo suspirado a contento, deixem-me agora falar do meu descontentamento perante os resultados que se teem vindo a desfraldar nas ultimas horas. Descontentamento porque? Porque, nao sendo militante nem simpatizante de nenhum partido, esperava, e desejava, um maior equilibrio dos resultados, senao exclusivamente entre o MPLA e a UNITA, pelo menos entre o partido da situacao e o total da oposicao. Ora, pelos resultados provisorios, que nada deixa prever se venham a alterar significativamente ate’ que a contagem final seja divulgada e homologada, estes revelam uma esmagadora victoria do partido da situacao e um virtual eclipse da oposicao – um resultado muito pior para esta do que o que tera’ obtido em 1992, particularmente no que a UNITA diz respeito.

3. Varios terao sido os factores determinantes de tais resultados, dos quais alguns se apresentam de imediata identificacao: i) a vantagem comparativa do MPLA em termos de meios materiais e financeiros, controlo da imprensa estatal e dos circulos de influencia a varios niveis do poder e a manipulacao do processo eleitoral que tal vantagem lhe tera’ possibilitado; ii) a falta de coerencia do(s) discurso(s) da oposicao, nao so’ devido a multiplicidade de partidos – a qual apenas foi mitigada a poucas semanas do acto eleitoral, quando o recem-constituido Tribunal Constitucional os passou a pente fino e aprovou apenas 14 dos potenciais concorrentes –, mas tambem, e sobretudo, devido a falta de coerencia interna desses partidos: praticamente todos registaram nos ultimos anos episodios de dissencao e cisao, com especial relevo para os dezasseis “deputados renegados” da UNITA e as fissuras nela criadas pelo (des)posicionamento partidario de lideres como Chivukuvuku ou Valentim; iii) o factor ‘experiencia’ (indisputavel?) por parte dos detentores do poder ha’ mais de 30 anos, aliado ao factor ‘habituacao’ de um eleitorado que tera’ decidido preferir “o diabo que ja’ conhece”.

4. Entre a oposicao, pelo menos um partido tera’ escapado a imagem geral de falta de coesao interna, disputas pela lideranca e (quase?) exclusiva preocupacao com as benesses materiais e financeiras do poder, que caracterizou nao poucos dos seus companheiros da oposicao durante a longa travessia no deserto desde as legislativas de 1992: a Frente para a Democracia (FpD). Mas se essa tera’ sido a sua bendicao, tambem tera’ sido a sua maldicao. Porque? Porque, dadas as expectativas que gerou, em particular entre a elite urbana de Luanda, e a forma como ela propria se projectou nos ultimos tempos como “terceira forca” ou “partido charneira”, a FpD surge como a grande derrotada destas eleicoes, pelo menos a julgar pelos resultados ate’ agora divulgados (em decimo lugar no momento em que escrevo). Ora, esta particular “derrota” da FpD leva-me a tecer algumas consideracoes sobre o que realmente esteve em causa nestas eleicoes.

5. Antes de entrar propriamente em tais consideracoes (que, por imposicoes do timing e da distancia em que as teco, serao necessariamente tao provisorias quanto os resultados das eleicoes divulgados ate’ agora)* importa olhar um pouco mais atentamente para quem votou nestas legislativas. Foram os Angolanos (ou parte deles residentes no pais). E quem sao os Angolanos? Em tracos gerais, nunca e’ demais nota-lo, sao um povo que foi colonizado pelo pais menos desenvolvido da Europa Ocidental durante boa parte dos ultimos 5 seculos, que lutou (ou pelo menos parte dele) pela obtencao da sua independencia politica durante boa parte dos ultimos 50 anos, que se viu envolvido numa guerra fratricida, alimentada parcialmente por potencias estrangeiras, e em particular pelos protagonistas da Guerra Fria, durante boa parte dos ultimos 30 anos e que foi agora pela primeira vez as urnas 16 anos depois de umas eleicoes inconclusivas e com resultados desastrosos. Em suma, para la’ da exuberancia e do ‘bravado’ que os nossos brilharetes evidenciam – nos campos de futebol e de basquetebol, nas pistas de danca e, mais recentemente, nas exibicoes novo-riquistas dos novos edificios e aquisicoes materiais e nas estatisticas resultantes do output dos nossos pocos de petroleo –, um povo brutalizado e traumatizado por toda a sorte de violencias e adversidades, as quais tiveram profundos impactos materiais, psicologicos e espirituais nas suas vidas quotidianas e na forma como tendem a perspectivar o seu futuro. Impactos esses que, embora se pretendam disfarcar por tras do tal ‘bravado’ e exuberancia, se revelam amiude na inseguranca, frequentemente mascarada de arrogancia (que, a par de uma doentia subserviencia a tudo quanto seja estrangeiro, particularmente se europeu ou brasileiro, quantas vezes se traduz na mais flagrante falta de solidariedade, cortesia e respeito mutuo entre compatriotas e em varios graus de complexos de inferioridade e/ou de superioridade que invariavelmente conduzem a accoes destrutivas ‘do outro’, particularmente se tal 'outro' nao detem uma posicao qualquer de poder na sociedade local ou, seja por que razao for, seja parte da Diaspora, espelhando ainda uma certa psicose de guerra fratricida permanente…), com que os Angolanos em geral, desde as chamadas “massas populares” as chamadas "elites", de esquerda ou de direita, se comportam na sua vida social aos mais diversos niveis e exercem as suas escolhas, desde as mais triviais, as mais importantes e decisivas como, neste caso, as eleicoes.

6. Foi, pois, esse povo que produziu os resultados eleitorais que temos observado nas ultimas horas. Foi um povo, qual “Teresa Baptista” de Jorge Amado, cansado de guerra; um povo em busca de seguranca e da concretizacao, de forma observavel, de aspiracoes e necessidades materiais, psicologicas e espirituais imediatas e nao de promessas longinquas e impalpaveis; um povo que, como notei acima, parece ter preferido escolher, entre varios possiveis, “o diabo que ja’ conhece”. Poe-se, entao, uma dupla questao incontornavel: onde e’ que o MPLA foi buscar tanta credibilidade para ser julgado capaz de conceder seguranca, mitigar carencias, concretizar aspiracoes e satisfazer necessidades que, quanto muito, apenas tera’ contribuido para agravar durante a maior parte dos ultimos 30 anos e porque que a oposicao, em face de tais carencias, necessidades e aspiracoes nao foi capaz de as capitalizar em seu favor?

7. Responder cabalmente a tal questao e’ um desafio de alta ordem que, contudo, creio poder ser simplificado ao essencial e reduzido a algumas constatacoes basicas: i) mais do que tudo, a maioria do eleitorado tera’ priorizado, entre as suas expectativas e aspiracoes, a necessidade de estabilidade politica e normalizacao institucional no pais, antes de apostar decididamente na mudanca do status-quo; ii) o partido da situacao tera’ sabido capitalizar a sua experiencia de decadas no poder, reforcando-a em vesperas de eleicoes com uma profusao de inauguracoes de novos empreendimentos imobiliarios e infrastruturais e promessas (crediveis?) de os multiplicar nos proximos anos; iii) a oposicao nao esteve a altura nem das expectativas e aspiracoes da grande maioria do eleitorado, nem do challenge do partido da situacao (e aqui ha’ que notar que, se JES se afirmou e se comportou como um “decimo segundo jogador em campo marcando golos fora de jogo” ou como “um treinador ou arbitro que entra em campo para marcar o penalty decisivo a favor de uma das equipas”, nada faria supor de antemao que a sua entrada em campo viria a revelar-se necessariamente uma vantagem para a sua equipa e… tudo parece indicar que ainda nao apareceu entre os lideres da oposicao um challenger capaz de o por definitivamente fora de campo – mas isso e’ uma conversa mais la’ para o proximo ano).

8. Em particular, a FpD parece nao ter conseguido destrincar, aos olhos de grande parte do eleitorado, aquela fine line que separa um “partido com um numero significativo de intelectuais” de um “partido elitista”. Isto e’, embora se tenha multiplicado em discursos mobilizadores da sociedade civil e em accoes de solidariedade para com alguns dos segmentos populacionais mais vitimizados pelo poder (desde os contestatarios de Cabinda, aos desalojados da Boavista, passando pela Diaspora impedida de votar), tera’ desconseguido engajar completa e decisivamente quer a sociedade civil (muito provavelmente por significativos sectores desta ainda se considerarem membros da “grande familia”), quer “as massas populares” de que tantas vezes se tem manifestado como porta-voz (as quais, muito provavelmente lhes terao agradecido a simpatia e o apoio, mas nao passaram por isso a identificar-se com eles ao ponto de votar neles), quer a generalidade dos "diasporenses" (no caso destes, fundamentalmente, por, para la' de ter tentado obter dividendos politicos dos seus varios descontentamentos, pouco ou nada ter avancado no sentido de propor solucoes viaveis para um dos seus maiores anseios: o regresso a patria, com dignidade). Tera’ tambem, apesar de nao se ter rogado, durante a campanha, a fazer amplo alarde do peso dos seus intelectuais, falhado em desbancar, com argumentos suficientemente crediveis, inteligiveis e incontestaveis, o grande trunfo do partido no poder: o real crescimento do PIB e a alegada “estabilidade macro-economica” observados nos ultimos anos e que “apenas a sua equipa economica supostamente sera’ capaz de continuar a proporcionar ao pais”. Tendo sido tal falha tambem devida, em grande medida, a gritante falta de cultura do debate que caracteriza a sociedade angolana em geral, a qual, por sua vez, tem muito a ver com a inseguranca de que falo acima.

9. Nao menos importante, pelo que pude observar, nao so’ do acompanhamento que tenho feito ao longo dos anos, como dos ecos que me foram chegando do terreno ao longo desta campanha e de alguns dos seus posicionamentos registados na blogosfera, a FpD, tal como alguns dos varios grupos de elite que ao longo da historia do MPLA dele se desafectaram por uma razao ou por outra, evidenciou uma caracteristica que tem marcado geralmente alguns desses grupos: um radicalismo (embora raramente assumido abertamente) dito “de esquerda” em termos politico-ideologicos e de ideais economicos, associado a um conservadorismo marcadamente “de direita” e, no limite, de matizes a rocar o puro reaccionarismo (quando nao o mais despudorado neocolonialismo e racismo - em exacta equivalencia ao dito "endocolonialismo" de que alguns acusam o partido no poder), em termos socio-culturais. So’ para dar um exemplo, um dos claims que fez a saciedade durante a campanha foi a sua “preocupacao com as questoes do genero”. No entanto, nao me dei conta, quer em termos de propostas concretas de politica, quer em termos de demonstracoes praticas, de uma particular sensibilidade desse partido em relacao a tais questoes. Em suma, a FpD, salvaguardados todos os seus indiscutiveis meritos relativos, parece ser um partido ainda em busca de um equilibrio satisfatorio entre o populismo e o programatismo, o dogmatismo e o pragmatismo, a retorica politica e a formulacao de politicas, a teoria e a pratica, enfim, entre o ideal e o real. E essa, quanto a mim, a razao fundamental para a sua “derrota” relativa, enquanto partido oposicionista mais promissor ate’ as vesperas destas eleicoes.

10. Do que vai dito resta-me uma consolacao: se a real expressao politica actual dos varios partidos da oposicao e’ a que os resultados destas legislativas revelam (e nunca e’ demais repeti-lo: apesar de todas as “trafulhas” que o partido da situacao possa ter feito para garantir a sua victoria, nada garantiria ou deixaria prever uma victoria tao retumbante como a que se vem desenhando desde o inicio da contagem dos votos), entao e’ bom que eles se mantenham na oposicao por pelo menos os proximos quatro anos, assumindo que terao a necessaria maturidade como partidos e responsabilidade como Angolanos para desses resultados retirarem as devidas licoes e ilacoes e nao cometerem os mesmos erros na caminhada para as proximas legislativas. Porque restam-me poucas duvidas de que estes resultados, mais do que um voto de confianca na situacao, revelam um voto de desconfianca na oposicao!

*As consideracoes aqui feitas deixaram de ser 'provisorias' quando, no dia 17/09/08, a CNE publicou os resultados definitivos das eleicoes que, como previa, nao revelaram alteracoes significativas relativamente aos conhecidos no momento em que as teci.

9 comments:

Anonymous said...

UUUFFFFF!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ASSINO POR BAIXO!

Anonymous said...

Tb. assino por baixo. E digo mais, se o M teve a imprensa estatal na mão a FpD teve a imprensa privada. É so ver os seus líders todas as semanas nas colunas dos semanários.

Anonymous said...

Parabens por este site muito bonito e interessante.
Se me dao licensa, vou ser aqui curto e grosso na minha modesta opiniao sobre o FpD. A partir da diaspora (Suecia) acompanhando pela net, fiquei mesmo com a sensacao que esse partido estava mais preocupado em ganhar a simpatia dos grupos anti-Mugabe do que dos proprios angolanos da diaspora e outra coisa em que eles falharam foi se colarem demasiado com a Unita e entao acabaram por apanhar por tabela.

Obrigado pela oportunidade.

Koluki said...

Obrigada a todos pelos vossos comentarios.

VDV, apenas uma ressalva: os semanarios mal chegam as provincias e os principais orgaos de difusao massiva fora de Luanda sao a RNA e a TPA, que sao estatais.

Angolano em Estocolmo: obrigada pela visita e pelo comentario.Acho que tem direito a sua opiniao, assim como a FpD tem direito a sua e a colar-se com quem quiser, desde que saiba arcar com as consequencias. So' tenho pena que as consequencias sejam que ela, como varios outros partidos que nao conseguiram obter 0,5% dos votos vao ser extintos...
No que diz respeito a questao do Mugabe, so' tenho pena de duas coisas:
1. Como intelectuais deveriam esclarecer exactamente quais dos dois vectores do "anti-Mugabismo" eles estavam contra: a questao da terra, ou a questao das atitudes anti-democraticas do Mugabe? Ou ambas? E exactamente, ponto por ponto, porque?
2. Como partido, deveriam ter uma maior apreciacao do facto de que, a questao do Zimbabwe, sendo uma questao politica extremamente delicada, nao devia ter sido trazida para o debate eleitoral nacional, a menos que eles demonstrassem bem ao eleitorado quais eram exactamente os paralelos daquela situacao com a de Angola. Deveriam tambem entender que sendo uma questao externa, era uma questao de estado e portanto a ser tratada ao nivel da diplomacia angolana, para a qual eles poderiam contribuir oficialmente enquanto partido legal e com assento parlamentar, sem recorrerem ao disse-que-disse na internet. Ficava-lhes muito melhor em termos de imagem e nao perderiam por isso a simpatia dos tais grupos anti-Mugabe. E ja' agora sempre gostava de saber o que e' que eles teem a dizer sobre o acordo ontem assinado entre o Mugabe e o Tsivangirai?
Isso seria interessante saber, porque talvez eles agora tambem estejam a precisar de entrar "em acordos" com a Unita (ou com outros?) para continuarem como politicos activos...

Bom, ja' vai longa a conversa. Mais uma vez obrigada.

Anonymous said...

Sim, é verdade que os semanários quase não circulam fora da capital. Mas então porque que eles não conseguiram mais votos em Luanda?
E outra coisa que eu preferia nem sequer tocar, mas que tem que ser dita porque muita gente não sabe é que muitos dos dirigentes e apoiantes da FpD vieram de grupos como a OCA – Organização Comunista de Angola, CAC – Comités Amilcar Cabral, Comités José Stalin, etc.
Ora esses grupos nunca foram pela democracia parlamentar! A única democracia que eles sempre entenderam e defenderam foi a Ditadura do Proletariado!!
Tenho dito.

Koluki said...

Bom, VDV, concordo, mas convenhamos que nenhum dos partidos concorrentes alguma vez foi adepto 'ferrenho' da democracia parlamentar. Nem mesmo a UNITA, apesar de toda a propaganda em contrario... Portanto o pais esta' todo a aprender (eleitores e eleitos) e e' nesse sentido que acho que os perdedores devem aceitar a derrota com humildade e tentar corrigir os seus erros com honestidade, caso queiram continuar a concorrer a eleicoes.
E tambem ha' que reconhecer que, apesar de tudo, a FpD conseguiu resultados acima da sua media nacional em Luanda e... Cabinda!
Portanto, pelos vistos os esforcos junto das "massas populares" e do caso particular de Cabinda nao terao sido completamente em vao...

P.S.: parece que o meu comentario anterior saiu um pouco confuso. Onde disse "Como intelectuais deveriam esclarecer exactamente quais dos dois vectores do "anti-Mugabismo"... queria dizer qual dos dois vectores do "Mugabismo".

Koluki said...

Ja' agora, deixo tambem aqui o registo de um comentario que fiz ontem no blog "Mocambique Para Todos", a proposito das declaracoes de um dirigente da FpD:

Sem duvida que a composicao do parlamento resultante destas eleicoes nao e' um bom augurio para a democracia.
Mas importa questionar nao apenas a composicao do parlamento (em termos do numero de deputados da oposicao) mas tambem a sua qualidade. E um dos factores que, quanto a mim, pesou bastante nas decisoes de voto dos eleitores foi a avaliacao francamente negativa da prestacao parlamentar da oposicao durante a longa legislatura de 16 anos que agora terminou.
E' portanto, do meu ponto de vista, urgente que a oposicao, particularmente os seus lideres mais esclarecidos, sejam capazes de recolher destes resultados eleitorais as devidas licoes. Se o fizerem, eles acabarao por traduzir-se, em eleicoes legislativas vindouras, num avanco para a democracia!


Aqui:

http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2008/09/eleies-legislat.html

Anonymous said...

Olá,

Sou frequentador assíduo do seu blog e aprecio muito os seus escritos. Neste apreciei bastante a análise equilibrada que faz dos resultados eleitorais na nossa Angola e também comungo de algumas das críticas que faz ao FpD. Mas tenho um reparo a fazer-lhe. Porquê considera “alegada” a estabilidade macroeconómica do país conseguida pela nossa equipa económica? Nao acha que um Pedro de Morais que foi galardoado com o prémio de melhor Ministro das Finanças do continente africano, ou um Aguinaldo Jaime que se considerou como podendo ser um bom Ministro das Finanças de qualquer país europeu, nos merecem mais credibilidade?

Koluki said...

Ola’,

Obrigada pela sua frequencia e apreciacao deste blog.

Neste texto, nao pretendi propriamente questionar a estabilidade macro-economica ao usar a expressao “alegada”. Fi-lo mais para enfatizar o facto de que esse e’ o grande trunfo usado pelo partido no poder para garantir o voto dos eleitores. E acrescentei: (…) e que “apenas a sua equipa economica supostamente sera’ capaz de continuar a proporcionar ao pais”. Tambem nao pretendi com isso questionar a capacidade profissional dos titulares das pastas mais directamente responsaveis pelos resultados economicos que se teem observado no pais. O que pretendi foi realcar o facto de a FpD nao ter, pelo menos que seja do meu conhecimento, tentado questionar mais profundamente essas “alegacoes” do MPLA. E nao pretendia que questionasse apenas por questionar.

Como deve saber, em qualquer pais do ocidente, particularmente nos paises europeus de que Aguinaldo Jaime poderia ser um bom ministro das financas e muito especialmente no pais, UK, onde esta’ sediada a instituicao que concedeu a Pedro de Morais o premio “The Banker”, o debate eleitoral e as decisoes de voto, a excepcao de situacoes extraordinarias como a gestao de catastrofes, guerras ou recessoes economicas mundiais, sao particularmente ancoradas nos indicadores macro-economicos da conjuntura, mas nao so’: sao sobretudo baseados na ‘performance’ geral da economia que tais indicadores reflectem. E ai a oposicao, especialmente durante a campanha eleitoral, tem a obrigacao perante os eleitores de questionar esses indicadores, quanto mais nao seja para admitir que eles sao saudaveis e uma boa base para a futura governacao, pesem embora quaisquer que sejam as razoes que os levam a fazer oposicao. Essa poderia ter sido a posicao da FpD, ou de qualquer outro partido da oposicao. Ora, a minha questao e’ que, nao so’ esse debate nao aconteceu, como tambem tudo quanto o discurso oposicionista da FpD revela e’ um questionamento de toda a governacao. Assim sendo, era de se esperar, no minimo, que ela explicitasse as razoes fundamentais desse questionamento e isso, quanto a mim, nao poderia deixar de passar pelo questionamento dos indicadores macro-economicos no contexto mais geral do estado da economia e da sociedade. E essa a razao fundamental porque usei as expressoes “alegadas” e “supostamente”.

Tendo dito isso, e admitindo que se registou em Angola nos ultimos anos uma notavel estabilizacao de dois importantes instrumentos de politica monetaria (nomeadamente as taxas de juro e de cambio), nao pretendo negar que tenho as minhas reticencias quanto ao que se convencionou chamar “estabilidade macro-economica” no pais. Expliquei-as em algum detalhe num texto que publiquei ha’ cerca de dois anos no Semanario Angolense e que aqui postei. E mantenho-as substancialmente.

Sei que, ao fazer tais observacoes e ao mante-las, mesmo depois de todas as ‘acollades’ que tal ‘estabilidade macro-economica’ tem recebido, corro o risco de incorrer num certo ridiculo (ou, no minimo, como agora esta’ na moda em certos circulos no pais, em acusacoes de “nao pensar pela minha propria cabeca”…), particularmente por me encontrar fora do pais. Mas porque que as mantenho? Entre outras razoes ponderosas, porque os outorgantes do premio “The Banker” concedido ao nosso (parece que no novo governo que ai vem, ex) Ministro das Financas no inicio deste ano dizem que basearam a sua escolha nos seguintes criterios: “Attacking corruption, addressing tax evasion and overhauling collection methods as well as applying a healthy dose of bank consolidation have all influenced The Banker’s selection of the world’s leading finance ministers.” Ora, mesmo que se considere que tudo isso foi feito satisfatoriamente pelo nosso Ministro das Financas, resta saber exactamente, em termos estritamente tecnicos, como e’ que isso se traduziu directamente na ‘estabilidade macro-economica’ de que se fala. Por isso gostaria, sinceramente, que os meus argumentos fossem contraditados, especialmente por economistas baseados no pais, uma vez que nao tenho nenhum prazer em criticar apenas por criticar e muito menos em relacao a questoes tao importantes e sensiveis.

E essa a razao pela qual gostaria de ouvir argumentos contrarios aos meus por parte de economistas independentes (isto e’, nao apenas dos investidores internacionais que patrocinam o premio “The Banker”, que nao teem razoes para duvidar das fabulosas taxas de retorno dos seus investimentos em Angola, ou do Banco Mundial, por entre os seus “lock-in incentives” para tentar travar o avanco financeiro da China em Africa…), quanto mais nao seja por uma questao academica: tem-se dito que o “milagre macro-economico angolano” foi obtido por metodos tecnicos nao ortodoxos, criados pela propria equipa economica. Muito bem. Mas por isso mesmo eles deveriam ser melhor explicados e explicitados – quem sabe nao garantiriam aos membros da equipa economica um Premio Nobel da Economia? Todavia, das minhas reticencias, nao se deve inferir necessariamente um questionamento da capacidade tecnica ou governativa da equipa economica. E devo dizer tambem que elas nao resultam de um qualquer exercicio teorico especulativo a distancia da minha parte, mas sim de varios anos de trabalho em organizacoes supra-nacionais na regiao da SADC onde, por dever e necessidade de oficio, tive que seguir de perto a evolucao dos indicadores macro-economicos de Angola e, antes disso, em bancos portugueses que lidam directamente com a economia angolana.

Tambem nao pretendo, nem nunca pretendi, questionar as competencias ou qualificacoes academicas e profissionais individuais dos integrantes daquela equipa. Quanto mais nao seja porque conheco pessoalmente alguns deles. Fui colega de Ana Dias Lourenco e de Manuel Nunes Jr na Faculdade de Economia da UAN (da Ana ja’ tinha sido colega no liceu feminino e voltei a encontra-la em Gaborone quando ela foi presidente do conselho de ministros da SADC, durante a presidencia Angolana da organizacao; com o Manuel Nunes voltei a encontrar-me e a ter algum contacto quando ele estava a fazer a sua post-graduacao na Universidade de York aqui na Inglaterra); tive um encontro pessoal com Aguinaldo Jaime, ja’ la’ vao mais de dez anos, na perspectiva do meu regresso e colocacao profissional em Angola, que por razoes extemporaneas acabou por nao se concretizar na altura, mas desse encontro colhi dele uma opiniao bastante favoravel (a qual foi de certo modo reforcada, embora eu nao tenha estado presente por me encontrar na Africa do Sul na altura, quando ele aqui esteve em Londres ha’ cerca de 2 anos para uma conferencia sobre Angola da qual o meu filho fez parte da organizacao como estagiario na Chatham House); tambem conheci Pedro de Morais durante uma reuniao do Conselho de Ministros da SADC em Luanda aqui ha’ uns anos e tambem fiquei bem impressionada com a sua prestacao naquela reuniao. Portanto, as minhas observacoes sobre a economia angolana nao sao movidas por quaisquer animosidades pessoais em relacao aos seus protagonistas. Apenas gostava que isso ficasse bem claro. Sao sim movidas por preocupacoes genuinas de ordem tecnica e uma necessidade de debate que, infelizmente, escasseia Angola.

Desculpe-me a longa resposta e os detalhes pessoais (ou melhor, as minhas desculpas vao para as pessoas cujos nomes aqui mencionei) que, em circunstancias normais, me escusaria a fazer, mas o seu reparo sugeriu-me que estes esclarecimentos eram necessarios, particularmente tendo em conta que no nosso pais ha’ uma grande tendencia para se pessoalizarem de forma conflituosa todo o tipo de questoes.

Um abraco.