Thursday 3 February 2011

Imperial Leather: Sexo, Raca, Genero e Poder




Continuando um pouco na senda da exploracao das relacoes de poder entre raca, genero e sexualidade, em contextos coloniais e post-coloniais (recentemente abordadas aqui e aqui), uma breve apresentacao da traducao para portugues, quinze anos depois da sua primeira edicao em ingles (... no seculo passado...), da obra Imperial Leather: Race, Gender, and Sexuality in the Colonial Context (Routledge, 1995), de Anne McClintock (Simone de Beauvoir Professor of English and Women’s and Gender Studies at UW-Madison).

O titulo em portugues, Couro Imperial: Raça, gênero e sexualidade no embate colonial (Unicamp, Brasil, 2010), apesar de traducao literalmente correcta (embora do subtitulo ja' nao se possa dizer o mesmo perante a traducao de context para embate...), infelizmente nao captura totalmente o seu sentido mais profundo em ingles (dir-se-ia que se trata aqui de um caso de lost in translation) – Imperial Leather e’ o nome de uma conhecida marca britanica de cosmeticos (especialmente sabonete) da epoca Victoriana que se continua a produzir e a comercializar ate’ hoje.



Ora, uma vertente fundamental desta obra (alias, retratada na imagem da sua capa e perspicazmente comentada aqui) e', num contexto em que a cor de pele escura e' associada a sujidade, a 'historia sexual e social da higiene corporal' (ou 'falta dela') e o 'papel civilizador do sabonete' (com um enfoque especial na sua publicidade - para uma breve historia em imagens da representacao de negros em publicidade no UK, ver aqui), aos quais a autora dedica explicitamente dois capitulos, o que da’ o titulo ao livro e um outro entitulado “Soft-Soaping Empire: Commodity Racism and Imperial Advertising.”


[Uma nota que nao posso deixar de fazer aqui, foi o quanto me impressionou, numa das sessoes de historia por literatura oral que a minha avo materna me transmitiu, ela mencionar como, nos relatos sobre os primeiros encontros com 'os brancos (portugueses)', estes "cheiravam muito mal"!... O que pode ser atribuido tanto as diferencas de percepcao sensorial do estranho ('o outro'), fenotipicas ou culturais, como ao facto de tais 'brancos' chegarem ao contacto com os 'negros' (... os hoje malfadados "indigenas", "autoctones", ou "genuinos"...) depois de longas viagens em caravelas sem condicoes aceitaveis de higiene e salubridade (sendo que o seu pais de origem 'a epoca tambem nao era particularmente conhecido pelos "mais elevados standards" sanitarios...) e, uma vez desembarcados, fazerem por vezes longas viagens por zonas nao habitadas ate' chegarem ao contacto directo com os ditos "autoctones"...]


Uma outra dimensao que esta obra coloca, sem remissao, na consciencia de todos quantos a isso se possam prestar, e' a dos direitos reprodutivos da mulher e o seu controlo do proprio corpo: e.g. deixando, de momento, de parte a (falsa?) questao do sacrossanto matrimonio, "quantas 'crias' tem uma 'femea' que parir para poder ser considerada uma 'senhora respeitavel' pela 'sociedade', ou seja, pelos 'homens respeitaveis'" e, correlativa mas cinicamente, "terao tais 'crias' que ser forcosamente do mesmo 'macho'"?

[Clique nas imagens para as ampliar]



Associada aquela dimensao, ha' uma outra abordagem que este livro nos permite: o processo de transferencia, numa sociedade escravocrato-colonial, dos deveres maternais da mulher branca para a escrava/ama-seca negra - o que nos remete, na era 'post-colonial' ou 'post-moderna', para questoes como as afloradas aqui ou aqui...

[imagem daqui]

... Ou, mais recentemente, para o decadente, deprimente, aviltante, degradante e revoltante "espectaculo contemporaneo" de uma filha da 'ex-burguesia colonial' (?), ninfa branca racista supremacista de extrema direita, retardada, ridicula, quase cinquentona, mae solteira de uma unica(?!) filha mulata (va-se la' saber de quem...), nos seus doentios, obscenos, amorais e imorais jogos de seducao de homens negros (...ou quase...), movida, na sua patologica (i)logica do p(h)oder, apenas por inveja, odio, ciume, possessividade e lascivia (veja-se, a este proposito, o seu perfil aqui...), tentando perversa, intrusiva e abusivamente impor/transferir os seus 'desejos frustrados/reprimidos de procriacao em serie' (deste tipo...) para a mulher que ela fantasia ser sua escrava: a negra!


Ou, a falta de melhor, ou mais excitante fantasia, dada a sua mais do que evidente falta de qualquer resquicio de respeitabilidade ou caracter, tentando transforma-la naquilo que ela realmente e': 'lesbica', 'homosexual' ou 'homem em corpo de mulher' (ou sera' 'mulher em corpo de homem' - afinal para que serve a mulher (especialmente a negra) senao para parir?!)...


Patetice... So'?!


[imagem daqui]

Para terminar, destaco da obra (parcialmente reproduzida no 'inserto' abaixo), que em termos metodologicos recorre fundamentalmente a psicanalise, a seguinte passagem:


"A vasta e fraturada arquitetura do imperialismo era eivada de gênero e atravessada pelo fato de que os homens brancos faziam e executavam as leis e políticas de seu próprio interesse. Ainda assim, os privilégios de raça com frequência colocavam as mulheres brancas em posição de poder - ainda que emprestado - não só sobre as mulheres colonizadas, mas também sobre os homens colonizados. Como tais, as mulheres brancas não eram as infelizes passantes do império, mas as cúmplices ambíguas, tanto como colonizadoras quanto como colonizadas, privilegiadas e restringidas, fossem passivas ou ativas."





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O titulo em portugues, Couro Imperial: Raça, gênero e sexualidade no embate colonial (Unicamp, Brasil, 2010), apesar de traducao literalmente correcta (embora do subtitulo ja' nao se possa dizer o mesmo perante a traducao de context para embate...), infelizmente nao captura totalmente o seu sentido mais profundo em ingles (dir-se-ia que se trata aqui de um caso de lost in translation) – Imperial Leather e’ o nome de uma conhecida marca britanica de cosmeticos (especialmente sabonete) da epoca Victoriana que se continua a produzir e a comercializar ate’ hoje.



Ora, uma vertente fundamental desta obra (alias, retratada na imagem da sua capa e perspicazmente comentada aqui) e', num contexto em que a cor de pele escura e' associada a sujidade, a 'historia sexual e social da higiene corporal' (ou 'falta dela') e o 'papel civilizador do sabonete' (com um enfoque especial na sua publicidade - para uma breve historia em imagens da representacao de negros em publicidade no UK, ver aqui), aos quais a autora dedica explicitamente dois capitulos, o que da’ o titulo ao livro e um outro entitulado “Soft-Soaping Empire: Commodity Racism and Imperial Advertising.”


[Uma nota que nao posso deixar de fazer aqui, foi o quanto me impressionou, numa das sessoes de historia por literatura oral que a minha avo materna me transmitiu, ela mencionar como, nos relatos sobre os primeiros encontros com 'os brancos (portugueses)', estes "cheiravam muito mal"!... O que pode ser atribuido tanto as diferencas de percepcao sensorial do estranho ('o outro'), fenotipicas ou culturais, como ao facto de tais 'brancos' chegarem ao contacto com os 'negros' (... os hoje malfadados "indigenas", "autoctones", ou "genuinos"...) depois de longas viagens em caravelas sem condicoes aceitaveis de higiene e salubridade (sendo que o seu pais de origem 'a epoca tambem nao era particularmente conhecido pelos "mais elevados standards" sanitarios...) e, uma vez desembarcados, fazerem por vezes longas viagens por zonas nao habitadas ate' chegarem ao contacto directo com os ditos "autoctones"...]


Uma outra dimensao que esta obra coloca, sem remissao, na consciencia de todos quantos a isso se possam prestar, e' a dos direitos reprodutivos da mulher e o seu controlo do proprio corpo: e.g. deixando, de momento, de parte a (falsa?) questao do sacrossanto matrimonio, "quantas 'crias' tem uma 'femea' que parir para poder ser considerada uma 'senhora respeitavel' pela 'sociedade', ou seja, pelos 'homens respeitaveis'" e, correlativa mas cinicamente, "terao tais 'crias' que ser forcosamente do mesmo 'macho'"?

[Clique nas imagens para as ampliar]



Associada aquela dimensao, ha' uma outra abordagem que este livro nos permite: o processo de transferencia, numa sociedade escravocrato-colonial, dos deveres maternais da mulher branca para a escrava/ama-seca negra - o que nos remete, na era 'post-colonial' ou 'post-moderna', para questoes como as afloradas aqui ou aqui...

[imagem daqui]

... Ou, mais recentemente, para o decadente, deprimente, aviltante, degradante e revoltante "espectaculo contemporaneo" de uma filha da 'ex-burguesia colonial' (?), ninfa branca racista supremacista de extrema direita, retardada, ridicula, quase cinquentona, mae solteira de uma unica(?!) filha mulata (va-se la' saber de quem...), nos seus doentios, obscenos, amorais e imorais jogos de seducao de homens negros (...ou quase...), movida, na sua patologica (i)logica do p(h)oder, apenas por inveja, odio, ciume, possessividade e lascivia (veja-se, a este proposito, o seu perfil aqui...), tentando perversa, intrusiva e abusivamente impor/transferir os seus 'desejos frustrados/reprimidos de procriacao em serie' (deste tipo...) para a mulher que ela fantasia ser sua escrava: a negra!


Ou, a falta de melhor, ou mais excitante fantasia, dada a sua mais do que evidente falta de qualquer resquicio de respeitabilidade ou caracter, tentando transforma-la naquilo que ela realmente e': 'lesbica', 'homosexual' ou 'homem em corpo de mulher' (ou sera' 'mulher em corpo de homem' - afinal para que serve a mulher (especialmente a negra) senao para parir?!)...


Patetice... So'?!


[imagem daqui]

Para terminar, destaco da obra (parcialmente reproduzida no 'inserto' abaixo), que em termos metodologicos recorre fundamentalmente a psicanalise, a seguinte passagem:


"A vasta e fraturada arquitetura do imperialismo era eivada de gênero e atravessada pelo fato de que os homens brancos faziam e executavam as leis e políticas de seu próprio interesse. Ainda assim, os privilégios de raça com frequência colocavam as mulheres brancas em posição de poder - ainda que emprestado - não só sobre as mulheres colonizadas, mas também sobre os homens colonizados. Como tais, as mulheres brancas não eram as infelizes passantes do império, mas as cúmplices ambíguas, tanto como colonizadoras quanto como colonizadas, privilegiadas e restringidas, fossem passivas ou ativas."





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